Não me apetece escrever.
Não me apetece falar sobre nada.
Não me apetece ver ninguém.
Não me apetece mexer daqui.
Procurar mais além o que haverá por ali.
Sou um espírito livre
no entanto preso na minha acção.
Perde-se o sentimento num destino incerto,
sem rumo nem sentido
num deserto de ideias, toque ou emoção,
despido de um vislumbre lunar
que brilha, encanta...
Tendo a divagar,
deixar me levar pela língua,
instinto semeado, lavrado e colhido
em terreno árido apodrecido,
não regado,
literalmente sofrido.
É o alcatrão no chão,
os cinzentos prédios,
gente desconexa que passa lado a lado.
Tocam-se inclusive,
Não com as mãos,
mas sim com os cotovelos.
Novelos de lã associas à avó.
A avó já não está.
Morreu no esquecimento de toda a gente.
O velho não vira novo,
E tão pouco são os trapos.
O velho é incómodo.
É chato e dá trabalho.
Erradicam, ignoram, esquecem-se.
Mas é tão bela a velhice.
Não se o diz, por certo.
É politicamente incorrecto.
Tudo é devidamente medido.
O que se ganha.
O que se perde.
E eu já não sei o que digo...
Sigo perdido neste mundo,
como muitos outros...
Sou apenas mais um.
Mas não.
Não sou apenas mais um.
Sou único,
E como eu não há nenhum.
Sou como os dias.
E por muito que se tente,
não há dois iguais.
Por vezes olho e pergunto,
quem se pergunta por mim,
e onde estão eles?
Querer-me-ão eles?
Que pensam eles?
Que vivem eles?
Lêem-me eles?
Que sentem ao me ler?
Quem são os eles
e o que pensam de mim?
E porque não me o dizem?
Simplesmente tenho curiosidade.
Sou um tipo curioso,
não tanto piedoso,
muito menos misericordioso.
Jocoso, vá.
Perdulário do meu mesmo tempo,
pendente do segundo seguinte.
Vive.
Vive rapaz.
Vive que a vida é só uma.
Pouso então o copo,
olho-te nos olhos,
e nada te digo.
Torturo-te com o meu silêncio.
Castigo-te com o meu olhar.
Não te beijo mais,
Tão pouco te toco.
Morro mais um pouco
e tão pouco te quis eu dar.
Custa não perceber que pensamentos vão atrás do olhar.
Do olhar...
Jaz o silêncio na sala.
Pequeno nervosismo, talvez... até.
Tudo à espera de um final.
Será que haverá um?
Porque terá de haver?
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