Tuesday, October 12, 2010

Texto vazio de um velho olhar...


Não me apetece escrever.
Não me apetece falar sobre nada.
Não me apetece ver ninguém.
Não me apetece mexer daqui.
Procurar mais além o que haverá por ali.

Sou um espírito livre
no entanto preso na minha acção.

Perde-se o sentimento num destino incerto,
sem rumo nem sentido
num deserto de ideias, toque ou emoção,
despido de um vislumbre lunar
que brilha, encanta...

Tendo a divagar,
deixar me levar pela língua,
instinto semeado, lavrado e colhido
em terreno árido apodrecido,
não regado,
literalmente sofrido.

É o alcatrão no chão,
os cinzentos prédios,
gente desconexa que passa lado a lado.
Tocam-se inclusive,
Não com as mãos,
mas sim com os cotovelos.

Novelos de lã associas à avó.
A avó já não está.
Morreu no esquecimento de toda a gente.
O velho não vira novo,
E tão pouco são os trapos.
O velho é incómodo.
É chato e dá trabalho.
Erradicam, ignoram, esquecem-se.
Mas é tão bela a velhice.

Não se o diz, por certo.
É politicamente incorrecto.
Tudo é devidamente medido.
O que se ganha.
O que se perde.
E eu já não sei o que digo...

Sigo perdido neste mundo,
como muitos outros...
Sou apenas mais um.
Mas não.
Não sou apenas mais um.
Sou único,
E como eu não há nenhum.

Sou como os dias.
E por muito que se tente,
não há dois iguais.

Por vezes olho e pergunto,
quem se pergunta por mim,
e onde estão eles?
Querer-me-ão eles?
Que pensam eles?
Que vivem eles?
Lêem-me eles?
Que sentem ao me ler?
Quem são os eles
e o que pensam de mim?

E porque não me o dizem?

Simplesmente tenho curiosidade.
Sou um tipo curioso,
não tanto piedoso,
muito menos misericordioso.
Jocoso, vá.
Perdulário do meu mesmo tempo,
pendente do segundo seguinte.

Vive.
Vive rapaz.
Vive que a vida é só uma.

Pouso então o copo,
olho-te nos olhos,
e nada te digo.
Torturo-te com o meu silêncio.
Castigo-te com o meu olhar.
Não te beijo mais,
Tão pouco te toco.
Morro mais um pouco
e tão pouco te quis eu dar.

Custa não perceber que pensamentos vão atrás do olhar.
Do olhar...

Jaz o silêncio na sala.
Pequeno nervosismo, talvez... até.

Tudo à espera de um final.

Será que haverá um?
Porque terá de haver?

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