Monday, November 27, 2023

Fio

Há dias em que apetece tudo menos ser alguém.
Desaparecer por entre uma multidão de nadas e nada ser
Pertencer a tudo e a nada ao mesmo tempo, 
como se o tempo não fosse o de agora,
o de amanhã, 
o de ontem
mas o de todo o sempre.

Para sempre é um longo tempo,
sem que o tempo seja uma medida real,
pautada e guiada no pensamento. 
Pequeno momento fugaz
que se desfaz
rumo ao firmamento
e eu sem onde me firmar. 

Poderia parar. 
Mas assim não tem tanto encanto
e perco-me no canto
nesse recanto
onde jaz o meu pranto.

Talvez cheio, 
talvez vazio,
pouco importa
porque tudo resiste por um fio.
Pio.

E o...
Cibilar de mais um momento
digno de um autêntico jumento
que no seu inerte tormento
tem muito mais movimento
ternurento
que apenas necessita de fundamento
para justificar o seu lamento.

O fio une-se ao pavio
e nos junta em tons melacólicos
pautados duma percepção parcial.

Não que outrora fosse total.
Mas pelo menos era bem mais significativa.
E a vida...
Ai a vida...
Um dia a seguir ao outro...
E eu preso entre o meu tormento
e a minha gratidão de um dia mais te ter aqui.
Não necessariamente para mim.
Mas simplesmente aqui... ao pé de mim.

Obrigado. 

pic by:augenweide

pic by: augenweide

Monday, October 23, 2023

Anda

Pende o passado pendente do momento seguinte
Entre a luz e as trevas 
Que nos une e separa ao mesmo tempo
Sem que o tempo
que há tanto tempo se faz sentir...
Advertir!
A tempestade que há-de vir
As lágrimas que secaram de tanto esperar.
 
É um atropelo de palavras soltas
que juntas nada querem dizer
e ao mesmo tempo libertam algo dentro de mim,
não sei eu bem o quê.
Mas se calhar também não importa
tal e qual uma porta
que se abre para o infinito 
sem se sair do mesmo lugar. 
 
É um sítio comum 
sem sequer alguma vez o ter visto. 
É um amontoado...
de nada que tudo diz
sem nada significar
mas significa o mundo para mim.
 
O meu mundo
que tu ocupas
e nós vivemos
sem saber o porquê
nem o ter de saber
porque no final a vida é mesmo assim.
Um mundo de incertezas
Sem que nada tenha real valor,
muito para além daquele que lhe damos. 
 
Chega de bílis
num lugar onde o amor
não tem outro lugar que sentado no trono 
a reinar sobre todos os fazem parte do seu exército
que aos poucos vão desertando 
dando lugar a sentimentos tão menos nobres. 
 
O insignificado prosegue 
bem como todo o rol jorrando desde dedos
que não fazem mais do que reproduzir
aquilo que a mente dita
sem que minta 
ou pelo menos tenha consciência disso. 
 
É só mais um pedaço de papel, 
um suspiro, 
um espirro 
porque lá fora faz frio
e a corrente não deixa avançar.
Permaneço plantado 
como se me esquecesse de como mexer.
Os dedos mexem, 
as pernas não. 
 
Mais um dia, 
Mais uma etapa rumo ao infinito. 
 
Bora. 
 
Não há tempo a perder. 
Vens comigo?

Evoked by Storm
pic by: bisbiswas