Friday, August 09, 2019

Norte

Estou podre. 

Não mais podre que muitos dos que andam aí. 

Simplesmente podre. 

Não que eu ocupe um volume de monta.
Até estou de dieta e tudo. 
Mas o dia a dia 
que vem desde o dia do meu nascimento 
até ao dia de hoje
deixa-me podre.

Cansado de tudo e de todos.
O peso oprime-me,
puxa-me para baixo,
sem apelo nem agravo. 

Estou podre.
Menos podre do que muitas outras alturas da minha vida
onde desaperecer nem solução era
tudo me apertava
tudo me consumia,
não havia um vislumbre de luz
uma esperança no horizonte
uma razão para lutar
um sentido de viver
onde nem o morrer servia.

Estou podre
Mas diariamente luto para deixar de estar
dia após dia após dia
travo batalhas infinitas 
contra inimigos invisíveis
Um autêntico Don Quixote dos tempos modernos.

Estou podre e luto sem sentido algum,
mas algum sentido tudo isto começa a fazer
a partir do momento em que olhei para ti
e vi o teu sorriso. 

Nesse momento parei 
e simplesmente olhei para ti. 
 
Estou podre
e tudo era negro 
o abismo permanente
a solução para tudo isto... ausente.
Mas tu...
tu... foste o meu presente.
 
Olhei para ti
e sorri.
 
Nesse momento soube que tudo iria ficar bem.
O brilho voltou
o velho virou novo
e o podre transformou-se num quadro em branco 
pronto para pintar com as histórias das nossas vidas.
 
Ainda não estou morto.
E mesmo que o podre volte
não terá hipótese.
Não deixaste de ser a razão 
que me deu o norte.
E o podre só tem como destino a morte.



Pic by: hannahcrackanegg


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